terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Quem é o autor? Macunaíma e a Internet

Um dos pontos polêmicos sobre o livro Macunaíma foi a discussão relativa ao fato de Mário de Andrade ter utilizado como base as narrativas dos índios Taulipangues e Arekunás recolhidas pelo alemão Theodor Koch-Grünberg e publicadas em 1916.
Ao ser “acusado” de plágio, de forma indireta ou cínica por Raimundo Moraes, Mário de Andrade assume, também de forma cínica, que copiou não apenas Koch-Grünberg, mas também o próprio crítico e ainda Rui Barbosa, Mário Barreto e tantos outros. Diz ainda que nem a idéia de sátira do Brasil é dele e sim que já existia desde Gregório de Matos e encerra satirizando a descoberta do Brasil pelo acaso “dos Cabrais” que levou o Brasil a pertencer a Portugal.
Este posicionamento foi um dos motes utilizados por Eneida Maria de Souza (1999) em seu argumento sobre o posicionamento de Mário de Andrade em relação à propriedade de textos.
Segundo a autora, Mário de Andrade utilizava em sua defesa a teoria, que ele mesmo desenvolvera, de que a criação dos textos populares se daria por meio de um mecanismo de lembranças e esquecimentos da memória – falaremos sobre isso em outro post – diferentemente do texto erudito em que só da memória brilhante se faz uso. Obviamente que aqui também Mário de Andrade usa do cinismo para criticar os escritores eruditos.
Devemos lembrar também que no epílogo do Macunaíma, o escritor (Mário de Andrade) recebe as histórias de um papagaio e contadas em uma língua desconhecida, ou seja, Mário de Andrade já discutia nas últimas páginas do livro, quem seria o verdadeiro autor dos textos.
E o que tudo isso tem a ver com a Internet?
Nossa análise inicial – ainda nos aprofundaremos sobre o tema – é que o modelo da World Wide Web, ainda que dirigido por padrões fixos de navegadores, buscadores e comunicadores não dá conta da produção textual produzida em todo o mundo e tem funcionado um pouco como o modelo de transmissão oral, já que não existe uma modelo que armazene ou organize a história textual do que é produzido nestes ambientes de forma global.
Desta forma, ainda que existam casos de desonestidade como em qualquer meio, muitos textos ou imagens produzidos acabam também funcionando, como na proposição de Mário de Andrade, sob os mecanismos de lembrança e esquecimento e acabam por produzir, muitas vezes, plágios que não são plágios ou são plágios parciais ou talvez plágios múltiplos. Vemos, por exemplo, sites com um design que é na verdade uma montagem do design coletado de vários outros, textos que são subvertidos e/ou que têm a autoria alterada ou subtraída. Na maior parte das vezes sem que aqueles que publicam os textos e imagens saibam disso.
Obviamente não estamos falando da produção de organizações – mercantis ou não – e sim da produção da grande massa de internautas que publicam seus textos e imagens pessoais na Web, uma vez que são estes e não aqueles que interessam às nossas pesquisas neste momento.
Foi este o outro dos porquês da escolha do Macunaíma como livro objeto do nosso projeto.
Mais adiante nos aprofundaremos mais sobre estes assuntos.

Referência

SOUZA, Eneida Maria de. A pedra mágica do discurso. 2. Ed. revista e ampliada. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.

Um comentário:

  1. Plac plac plac!!! O Trabalho de vcs "mal começou" (eu sei que já teve muita labuta até agora) e eu já estou aplaudindo! Gente, que orgulho!.. Ah! Apresentações... Eu sou a amiga do Plumari!

    Pronto, devidamente apresentados, posso prosseguir o comentário... Internet ainda é uma "terra sem lei", o que ajuda e prejudica... prejudica por fatores óbvios que são essas coisas grotescas que vemos por aí, onde a net auxilia (pedofilia, por exemplo). Mas a parte boa é que justamente essa facilidade de coletar fontes permite a flexibilidade para transformar tudo o que você pega! Acho que a palavra de ordem seria "bom-senso" para nosso mundo na web! Citar referências e autores é o mínimo quando vc usa os caras em algum lugar, mas aí também, entra até em cultura... enfim... QUE MÁXIMO tudo isso!!!

    Parabéns, gente!!!

    Beijos

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